Dando continuidade as atividades em alusão ao 20 de Novembro ? Dia da Consciência Negra -, ontem, 19, o Palácio Museu Olímpio Campos (PMOC) recebeu diversas lideranças do Movimento Negro para o I Seminário ?Afrodescendência e Cidadania?.
Compôs a mesa do evento Martha Salles - professora da Universidade Federal de Sergipe, membro da Sociedade Omolàiyé e ialaxé (título de hierarquia no candomblé), Rosangela Santana ? professora e ex-vereadora de Aracaju, Izaura Ramos - coordenadora do PMOC, e Luiz Carlos Black Nunes, conhecido apenas por ?Black' - mestre em Ciência da Religião e graduado em psicologia pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp).
Um dos temas que ganhou destaque no seminário foi ?Intolerância Religiosa? que, segundo Martha Salles, tem afetado mais de perto as religiões de presença africana. Diante disso, o movimento negro tem montado uma agenda de debates que tem levado uma reflexão sobre a intolerância religiosa.
Os debates sobre a laicidade do Estado, o compromisso com o cumprimento da Constituição Federal do Brasil no tocante a liberdade de culto, o papel do Estado e também da sociedade civil na luta por garantias dos direitos das comunidades e povos praticantes dessa religião e o enfrentamento ao racismo, são apontados como temas importantes de serem assumidos pelo conjunto da sociedade para acabar com a intolerância religiosa. ?Nós entendemos que na prática, tudo isso não tem ocorrido?, declara Martha Salles.
De acordo com a ialaxé Martha Salles, no cenário político mais conservador em que o Brasil tem se localizado, a situação de intolerância piora. Para ela, a intolerância não é apenas uma questão religiosa, mas também de disputa de projeto político de poder, de ocupação de espaço e até de mercado religioso. ?A intolerância do ponto de vista da religião não é coisa do divino. O religioso, em tese, não pode ser intolerante?, afirma.
Resistência
Com o fortalecimento da agenda dos setores conservadores, que tem por consequência o acirramento dessa disputa de projeto, como aponta Martha Salles, amplia ainda mais a necessidade de atuação de grupos organizados do movimento negro. ?A gente se sente cada vez mais motivados para atuar. Eu faço parte de coletivos, movimentos, instituições e grupos de pesquisa que tentam aglutinar pessoas em torno de um projeto que dê conta dessas demandas e lute pela garantia desses direitos?, disse.
Em Sergipe, existem alguns grupos organizados para resistir à intolerância religiosa, mas que também vão além desse tema, refletindo de forma mais ampla, através de ações, estudos étnicos, políticos, sociais e culturais, sobre a condição do povo negro na sociedade brasileira e também grupos de ações.
Um exemplo é a Sociedade Omolàiyé, que contribui para o empoderamento das Comunidades Tradicionais de Matrizes Africanas no Estado de Sergipe, desenvolvendo estudos e pesquisas sobre a tradição e cultura afro-descendente. Além disso, a Sociedade presta assessoria e realiza ações educativas e políticas de defesa dos direitos humanos, de combate ao racismo e à intolerância religiosa, de fortalecimento da identidade e autoestima dessas comunidades negras e de promoção de sua autosustentabilidade.
O mapeamento dos terreiros e casas de santo no Estado é uma das políticas públicas que o movimento negro tem reivindicado como garantia de atuação. ?Precisamos saber quem somos, onde estamos, e em que situação social e econômica estamos. Sem isso fica muito difícil de atuar e pressionar o estado para agir?, explica a ialaxé Martha Salles.
Por Agatha Cristie |