No dia 22 de agosto, estamos comemorando os 50 anos da criação do Dia do Folclore, instituído oficialmente através do Decreto Federal N.º 56.747 de 17 de agosto de 1965, o qual atribuía ao Governo ?assegurar a mais ampla proteção às manifestações da criação popular, não só estimulado sua investigação - estudo, como ainda defendendo a sobrevivência dos seus folguedos e artes, como elo valioso da continuidade tradicional brasileira?.
De acordo com o decreto, a data de 22 de agosto fica definida como data comemorativa do folclore, em virtude do lançamento pela primeira vez da palavra Folk-Lore (folk = gente; e lore = conhecimento/saber) em 1846. Efetivamente, o dia 22 de agosto torna-se a apoteose das manifestações populares e artísticas do povo brasileiro, visto que, o folclore se congrega como a tradição, os costumes e usos populares transmitidos de geração em geração, de forma hereditária e ou por pura estética do cotidiano. Segundo a UNESCO, o ?folclore é sinônimo de cultura popular e representa a identidade social de uma comunidade através de suas criações culturais, coletivas ou individuais, e é também uma parte essencial da cultura de cada nação?.
Tomando por base a definição de folclore estabelecida pela UNESCO, olhamos mais intimamente para a realidade cultural e artística do nosso Estado. Sergipe carrega em sua configuração histórica, desde seu inicio de colonização até os dias atuais, uma efervescência de traços culturais que formatam a cultura popular de seu povo. Cultura que identifica, apropria e dar sinônimo ao pertencimento de todos. Esses traços estão representados, nas nossas cantigas de brincadeiras de infância, nos versos ritmados dos grupos folclóricos e vividamente representados por seus mestres e seu saber lúdico e de cunho sacroprofano, nos ditados populares que sinalizam a crença e estética do cotidiano de cada lugar. São múltiplas as formas, gestos, costumes, tradição e danças, que traduzem o sentimento de festar e manter viva a memória popular sergipana, e bem como a cultura popular brasileira. De acordo com Vargas (2013, p. 16-17), ?há os que ?brincam?, diferentemente daqueles que ?apresentam? suas danças e folguedos; há os que não brincam mais, assim como existem os folguedos guardados na memória do passado que não mais se manifestam e, ainda, aqueles que ?vendem um produto? ou se transformam em ?um produto? de sua cultura?.
Há! Mas Sergipe é um encanto a nos encantar! Pois existem municípios que congregam manifestações folclóricas, típicas de louvação do período imperial, grupos que se fantasiam e prestam louvação em uma mistura de credos católicos e nagô, a exemplo da cidade de Laranjeiras, com sua Taieira de D. Bilina, o Cacumbi de Mestre Deca e seu pandeiro enfeitado de fitas coloridas; o Reisado de D. Lalinha e seu cavaquinho; o som animado e compassado dos tamancos do Samba de Pareia de D. Nadir na Mussuca; Mestre Oscar, e sua Chegança, que entoa e adentra a ruas da cidade com rimas e versos; Seu Raminho e a manifestação popular do Lambe Sujo e Caboclinhos. Como também o seu Encontro Cultural, que neste ano celebrou a sua 40ª edição, sendo definido como um dos únicos encontros ininterruptos em toda América Latina. Sem falar dos municípios que congregam as tradições festivas do ciclo junino. Aqui podemos exemplificar com vários, como por exemplo, Itaporanga, Areia Branca, Rosário, entre outros, e principalmente a ?cidade jardim? ? Estância. Cidade onde os fogos de artifício são orquestrados ao som dos repiques e zabumbas dos trios pé-de-serra, e barcos de fogo rasga o céu magistralmente. Em Lagarto, o grupo folclórico Parafusos faz um balé singular, aonde os mais atentos chegam a pensar que se são piões pairando em meio às ruas, numa sincronia que representa mística e resistência.
Mas como folclore é também memória, as nossas ?casas de memória? são típicos exemplos de fortalecimento e pertencimento cultural do povo sergipano. São museus que tratam da História de Sergipe, como o Museu Histórico de Sergipe; templos memorativos a congregação e contemplação da arte sacra católica, como o Museu de Arte Sacra de Laranjeiras e o Museu de Arte Sacra de São Cristóvão; a casa de Cultura João Ribeiro; O Museu da Gente Sergipana ?Governador Marcelo Déda?; o Palácio-Museu Olímpio Campos, primando pela salvaguarda da memória política e cultural dos sergipanos. Além dos outros 58 museus despesos em vários pontos do nosso estado, em uma variedade de tipologias e missões.
Bom, mas hoje é dia de comemorar oficialmente meio século do decreto de criação do Dia do Folclore. Dia de comemorar a oficialização de uma data eleita com o objetivo de congregar 515 anos de história, de história típica dos que fazem a nação brasileira ? o povo brasileiro. Onde, aqui em Sergipe, comemorações, pois de fato temos o prazer de comemorar e festejar, ao som de tamancos, pífanos, triângulos, zabumbas, com rodas de leituras, com contos populares, mitos e lendas, que tratam dos nossos 195 anos de história, de nossa história popular.
Salve o povo brasileiro! Salve o povo sergipano! Salve a cultura popular e o sentimento de pertença de todos nós.
Fagner dos Santos Bomfim
Especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior; Graduado em Tecnologia e Gestão de Turismo; Guia de Turismo Regional/América Latina; aluno do Curso Bacharelado em Ciências Sociais (UFS); membro do Laboratório dos Estudos do Poder e da Política (LEPP/UFS).
Fontes:
BRASIL. DECRETO Nº 56.747, DE 17 DE AGOSTO DE 1965. Acesso em: 15 de ago. 2015.
VARGAS, M. A. M. Os tempos plurais das festas em Sergipe. IN: REVISTA CUMBUCA. Aracaju, ano I, n.º 2 ? julho/13. pp. 14-19.
(Foto: Ascom Laranjeiras) |