Crasto, povoado de Santa Luzia do Itanhy, interior de Sergipe. A 86 quilômetros de Aracaju, um grupo de seis mobilizadores movimentam na pequena comunidade o projeto Arte Naturalista, promovido pelo Instituto de Pesquisas em Tecnologia e Inovação (Ipti). Desvendando os sentidos sobre o próprio lugar a partir da produção de imagens, os alunos apresentarão em agosto, no Palácio-Museu Olímpio Campos (Pmoc), como um dos resultados do projeto, uma exposição com aproximadamente 30 peças sobre as cores e toda a biodiversidade que salta aos olhos no manguezal da região.
"Mudou tudo". É assim que, entre o cuidado com o desenho e um desvio para a conversa, Ubiratan Teixeira, 17 anos, reforça que participar do projeto foi ponto crucial em sua vida. Morador do povoado Pedra Furada, também em Santa Luzia do Itanhy, ele exibe um sorriso largo ao contar sua história. É pai de um menino que acabou de completar um mês, estuda o sétimo ano do ensino fundamental e tem grandes planos para o futuro como pintor ou desenhista. Começou a desenhar cedo e teve no pai a referência para seguir na profissão. "Meu pai desenhava bonecos. Via ele fazendo isso e acabava fazendo também", conta.
Segundo João Antônio, atual coordenador do projeto, a partir de fotografias do lugar feitas por fotógrafos juntamente com os jovens, os alunos escolhem a técnica - ponto-liso, grafite ou aquarela - que irão utilizar e elaboram a réplica para o desenho ou a pintura. Ainda conforme João, que foi da primeira turma, o projeto Arte Naturalista se desenvolve hoje, também, nas escolas do município, através do Mais Educação, com a penetração em seis povoados. "Os mobilizadores (grupo que se formou a partir da primeira turma do projeto) vão para as escolas da cidade e lá a gente monta as turmas de acordo com o talento", explica.
Para Marco Namura, aquarelista e precursor do projeto, o Ipti deu todas as condições, desde equipamentos até pessoal, para a sua execução e compreendeu o lugar de fala dos jovens inserindo no contexto da comunidade a problemática do mangue, "porque isso ajuda a preservar". Para o início do projeto foram selecionados 20 jovens de um total de 96 inscritos, com idades de até 17 anos e que estivessem cursando o ensino fundamental. Reforça, por isso, que o projeto não é assistencialista.
Ao final do primeiro ciclo, apenas seis - que hoje são os mobilizadores - continuaram. Para essa segunda fase, a ideia é fazer um catálogo com as peças desenvolvidas pelos alunos e que serão expostas no Palácio-Museu. De histórias distintas, de olhares desnivelados, o que mobiliza esses jovens a permanecer no projeto é a troca constante, a expectativa de um futuro melhor e a brincadeira enquanto profissão. "Aqui a gente trabalha, mas tem lazer também. São as duas coisas", conta Matheus Pereira, 17, coordenador da turma de Crasto. "[O projeto acabou] Mudando a nossa vida pra ser algo no mundo", diz em tom de filósofo o pequeno Alexandre Mendes, 13, enquanto desenha um graveto em grafite. Ao lado de Alexandre está Yuri dos Santos, 12, endossando as palavras do amigo. Ambos começaram agora e já sonham em ter o desenho como profissão.
Segundo Marieta Barbosa, diretora do Palácio-Museu, essa exposição reforça o compromisso social em oportunizar a memória e a cultura de Sergipe num espaço que representa a história política do nosso estado. "Abrir esse espaço é reforçar o cunho social que o Palácio-Museu tem. É dar visibilidade a essas histórias e vivências como partes importantes da história de Sergipe", afirma.
A exposição do projeto Arte Naturalista promovida pelo Palácio-Museu em parceria com o Ipti será apresentada ao público em agosto.
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